Sempre gostei de acampar e curtir uma boa música, com o tempo, a correria do dia a dia me perdi da minha essência.
Me casei tive filhos e deixei de lado a pessoa que eu era e tudo que eu gostava pra me dedicar a uma rotina exaustiva e vazia de prazeres só meus, não minha vida não era triste não, mas faltava me encontrar de novo, ser eu mesma.
Em 2017 ganhei o melhor presente de aniversário, a realização de um sonho, conhecer o Psicodália um festival que eu sempre quis muito participar, mas nem nos maiores sonhos eu imaginava o que ia viver, todas as emoções, amizades feitas e todo o bum cultural, achava que conhecia música, arte, mas o Psicodália transborda tudo isso de uma maneira linda eclética, pura, em cada canto da fazenda uma experiência única, difícil conseguir viver tudo...então ficou a vontade de quero mais e novamente em 2018 estava lá, desta vez com a minha filha e meu genro.
Foi mais uma experiência incrível, perfeita.
A tenda dos bruxos, o palco do lago, a rádio Kombi, o Plá, o teatro, o cinema, as oficinas, as comidas deliciosas, a mercearia honesta e de preço justo, a cozinha comunitária, o pessoal que trabalha (incríveis), os amigos que fiz, os artistas que se apresentam em todos os palcos, enfim um mundo a parte que é difícil abandonar e voltar ao mundo real, apesar de que você nunca mais volta o mesmo.
Participar do Dália é mudar sua essência.
Eu posso dizer que pra mim o sonho foi muito melhor do que esperava.
Então até 2019, tenda dos bruxos, Wagner, Nelson, Jaque (a nossa Elis), e tudo que de bom vier...
Vi amor, do início ao fim.
Muito respeito, "bom dia, boa tarde e boa noite", crianças sorrindo e com olhos brilhando por dias tão bem vividos, liberdade de ser, muita arte, famílias agradecendo o deleite de estar em paz, amizades brotando, afetos genuínos. Vi bandas que jamais veria, filmes com gargalhadas e emoção, congestionamento em filas pra fazer uma oficinas e aprender, teatro de todos e para todos. Comida bem feita, equipe de produtores que batalha pra fazer o melhor. Pessoal da limpeza e segurança agradecendo o "bom trato" . Vi muita arte e amor ❤️ agradeço sempre ao festival que nos proporciona 6 dias de afeto, família, amizade, arte e respeito ????
Oi, pai! Esse lugar é realmente a sua cara! Sinto como se estivesse realizando um sonho por nós dois estando aqui. Lembro-me de você me dizer desde que era pequenininha que seu sonho era ser hippie, viver uma vida livre, viajar, se desprender. Lembro de um certo pesar em seu olhar, mas recheado de ternura, ao falar que esse sonho não foi realizado porque você tinha que trabalhar, ajudar meus avós, ficar com o vovô no boteco. Sei que não há arrependimento nisso, sei que não há arrependimento agora, quando, mais uma vez, você ficou para cuidar deles. Sei que você sempre me disse que a vida tomou outros rumos e que ter a nossa família te deixa feliz, que me ver feliz o faz feliz.
Sabe, pai, eu não sei se sou feliz ou se esse é um estágio constante onde é possível ficar por muito tempo, mas naqueles dias naquele festival, posso dizer que fui ou estive um pouco mais próxima de estar feliz. São momentos proporcionados pela música, é claro. Além de algumas boas companhias e uns tragos, hehe. Mas eu estava feliz! Comigo. E sempre lembrando de ti. E em vários momentos, da vovó, e nesses eu já não era tão feliz.
Mas, sabe de uma coisa, pai? Eu não sei mesmo se esse sonho é para nós. O meu senso crítico, que você também me ensinou a ter, não desliga, e até lá me problematizando sobre a baixa participação de negras e negros. E nem é porque é no Sul, porque se tem uma coisa que tô vendo por aqui é que aqui tem muitxs negrxs, sim! Não sei quantos ali eram trabalhadorxs. Talvez como eu, funcionária pública, emprego estável, condições de pagar por um ingresso de quatrocentos reais parcelado em várias vezes, com tempo para viajar, para me encontrar. Mas quantos jovens, como você, nunca puderam ter acesso a esse sonho pago? Pensar nisso também me deixa menos feliz.
Mas a música... Ah! Ela tem esse poder de nos fazer um pouco mais incluída, mesmo em uma cultura e fenótipos completamente diferente dos nossos.
Quando Zé Ramalho tocou Raul foi impossível conter as lágrimas! Lembrei da gente escutando aquelas músicas nos seus vinis.
É ótimo agora poder voltar a ouvir sem medo de ser criticada pelas músicas que realmente gosto, fazer o que realmente quero! Mesmo que isso seja dormir até mais tarde e passar horas contemplando a natureza, observando as pessoas, conversando com elas. É ótimo poder não sucumbir ao produtivismo, nem o das oficinas. E tinham muitas!
Tem muita coisa legal para fazer lá: teatro, cinema, tirolesa, dança, costura, bioconstrução, fabricação de cerveja, yoga, tai chi chuan, espaço para crianças... Tudo isso é muito bonito e feito com muito amor, eu acredito! Mas eu não fiz quase nada além dos shows (que já eram muitos também). Apenas assisti a uma, duas peças, fiz uma aula de tai chi e vi um filme. Sim, eu vi um filme em pleno festival! E, pior, um filme que já tinha visto e facilmente encontraria em outro lugar para ver depois: Capitão Fantástico. Mas eu queria ver lá, sabia que teria uma vibe e um sentido diferente como, de fato, teve! Consegui entender muito melhor aquela história por estar onde estava e por lembrar de tudo isso que agora lhe falo.
Guardando as devidas proporções, porque a jovens latino americanos pobres que lutavam contra uma ditadura por aqui nunca foi permitido o sonho americanizado do paz-amor-sexo-drogas-e-rock-n-roll, você foi e é um Capitão Fantástico! E, melhor, fantasticamente politizado! Você nos criou livres e sou grata a ti por ter me ensinado a buscar coletivamente a minha-nossa liberdade e, quem sabe nela, encontrar essa tal felicidade.
Ainda vamos juntos a um Psicodália, pai. Mas saiba: você já esteve lá o tempo todo!
A vivência do Psicodália foi libertadora pra mim. O ambiente de respeito criado ali é acolhedor e nunca me senti tão livre sendo eu mesma quanto nesse lugar. Tem espaço para você ser como quiser e se expressar à sua maneira. Espero que o Psicodália continue sendo um lugar e tempo para isso: a diversidade, a liberdade e o respeito. O público que costuma frequentar o festival é assim. Não importa se você é jovem ou velho, baixo ou alto, negro ou amarelo ou branco ou azul, homossexual ou bi ou hetero, gordo ou magro, louco ou sensato, vestido ou pelado, trans ou cis, com filho ou sem filho, depilado ou peludo - esse é um lugar pra qualquer que seja você e a única coisa pra qual não deve ter espaço é o preconceito. O Psicodália abriu o meu horizonte em relação à minha liberdade e me fez mudar meu modo de vida, abandonando os hábitos que não me faziam bem e adquirindo hábitos melhores para o mundo. Além de tudo, um festival limpo e educativo, não se vê uma bituca no chão: se aprendermos a ser na vida prática como somos no Psicodália, o mundo já fica um pouquinho melhor!
Foi lindo. Sou uma pessoa urbana que - confesso - gosto de mordomias, gosto de conforto mas aprendi que há encanto no outro lado dessas situações. Me despi dos meus conceitos para experimentar um carnaval diferente. Vivi dias de perrengue (na minha ótica) compartilhando espaços, dormindo no chão, esperando a fila dos banheiros e pisando no barro, mas também experimentei um aprendizado que levarei comigo para o resto da vida.
Experimentei um pouco do comportamento que acredito deveria ser o ideal. Vi respeito! Respeito à diversidade, respeito à natureza, vi respeito às opiniões, às personalidades, às opções de vida. Aprendi que lama é só terra misturada com água, que o papel, a lata, os restos de comida não são lixo se vc souber descartá-los corretamente. Entendi que um pai com a cabeça cheia de dreadlocks e que faz pulseirinhas pra viver ama seu filho tanto quanto outros pais. Engoli meu preconceito, engoli velhas teorias, engoli algumas convicções e sai satisfeita. De coração cheio e alma alimentada. Percebi que o normal não existe. Normal é você viver do seu modo. Cabelos coloridos, furos e piercings no corpo, barbas, dreads, roupas ou ausência delas, não definem personalidade, não definem caráter.
Andei por uma fazenda de 500 mil metros quadrados e não vi um único copo descartável no chão e quando - por descuido - alguém deixou um papel caído, quem passou por ali o recolheu. Eu vi. Os copos pendurados no pescoço, as cadeiras e banquinhos, juntos com as mochilas, cangas, toalhas ou capas de chuva eram carregados para assistir aos shows que aconteciam dia e noite em diversos locais do evento. Vi Lô Borges, Zé Ramalho, Jorge Ben Jor, Tulipa Ruiz, passando o som para shows apoteóticos no quintal da minha barraca. Também vi esses grandes nomes com a mesma audiência que outros muito menos conhecidos. Aplaudidos e ovacionados com o mesmo entusiasmo e respeito. Vi arte em todo canto, vi tribos e guetos unidos. Vi preços respeitosos, vi funcionários simpáticos, gente trabalhando e gente se divertindo. Vi minha neta convivendo num ambiente bacana e livre. Foi lindo. #psicodália